Os rios Douro e Sabor, além de serem artérias de vida e paisagens deslumbrantes no Nordeste Transmontano, carregam nas suas margens histórias ancestrais, cheias de mistério e encanto. Ao longo dos séculos, as águas destes rios foram palco de lendas que misturam natureza, fé e tradição, perpetuadas pelas vozes das comunidades locais.
A lenda da princesa do Sabor
Diz a tradição que, em tempos remotos, o Rio Sabor era guardado por uma princesa encantada, filha de um rei mouro. Segundo a lenda, a princesa apaixonou-se por um jovem pastor que costumava conduzir as suas ovelhas até às margens do rio. No entanto, o pai, furioso por ver o amor entre duas classes tão diferentes, lançou uma maldição sobre o rio, ordenando que as suas águas nunca encontrassem paz.
Desde então, as correntes do Sabor tornaram-se turbulentas e imprevisíveis, como o coração partido da princesa. Diz-se que, em noites de lua cheia, o reflexo das águas revela a silhueta da princesa, esperando pelo seu amor perdido.
O barqueiro do Douro
Uma das lendas mais conhecidas do Douro é a do barqueiro fantasma. Conta-se que, há muitos anos, um barqueiro solitário vivia nas margens do rio, transportando viajantes e mercadorias entre as aldeias. Ele tinha fama de ser bondoso, mas misterioso, e nunca se sabia ao certo de onde vinha.
Uma noite, durante uma tempestade feroz, o barqueiro desapareceu enquanto tentava salvar um grupo de peregrinos que atravessava o rio. Desde então, os pescadores locais afirmam ouvir o som de remos cortando as águas nas noites de tempestade, e alguns juram ter visto o barqueiro conduzindo uma barca iluminada, guiando almas perdidas.
As ondinas do Douro
As ondinas, espíritos femininos da água, são parte das lendas do Douro. Segundo os habitantes das aldeias ribeirinhas, as ondinas aparecem ao amanhecer, banhando-se nas águas calmas do rio, cantando melodias encantadoras. Estas criaturas místicas são descritas como belas mulheres com cabelos longos e brilhantes, capazes de atrair os viajantes incautos.
Quem se deixa encantar pelo canto das ondinas corre o risco de ser atraído para as profundezas do rio, onde desaparece para sempre. Porém, reza a lenda que estas entidades também têm o poder de curar os doentes e ajudar os navegantes que respeitam o Douro e a sua natureza.
O ouro do Douro
Outra lenda popular fala de um tesouro escondido nas margens do Douro. Segundo a tradição, durante as invasões napoleónicas, soldados franceses esconderam ouro e joias roubadas num local secreto junto ao rio, marcado por uma velha árvore. Apesar de muitos terem procurado o tesouro ao longo dos anos, ninguém o encontrou.
Os mais supersticiosos acreditam que o ouro é protegido por um espírito guardião que amaldiçoa quem tenta desenterrá-lo. Assim, o “ouro do Douro” permanece apenas como parte da imaginação e das histórias contadas à lareira.
Lendas que mantêm a tradição viva
Estas histórias são mais do que simples narrativas. Elas revelam a relação profunda entre as pessoas e os rios que moldam a paisagem e a vida na região. O Douro e o Sabor não são apenas corpos de água, mas guardiões de memórias e mistérios, fontes inesgotáveis de inspiração para poetas, escritores e sonhadores.
Quando visitar esta região, preste atenção às vozes das águas e às histórias partilhadas pelos locais. Talvez descubra que, entre as margens dos rios, o encanto das lendas ainda vive e pulsa com o correr das correntes.


